quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Uso das TICs diminui abismo digital entre nações ricas e pobres, mas países emergentes ainda estão atrasados

 

Adriana Martinelli, Coordenadora da Área de Educação e Tecnologia do Instituto Ayrton Senna

O uso das tecnologias está diminuindo o abismo digital entre países ricos e pobres, segundo relatório da Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês), lançado no início de fevereiro. A pesquisa revela uma maior proximidade nas taxas de inclusão digital entre os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento à medida que telefones celulares e internet, por exemplo, se tornam mais disponíveis à população. “O mundo emergente, entretanto, ainda está muito atrás”, aponta o relatório.
Nos últimos cinco anos, o total de usuários de telefones celulares praticamente triplicou nos países em desenvolvimento, o que corresponde a cerca de 58% dos usuários de celulares do mundo. "A região da América Latina é responsável pela terceira maior taxa de crescimento no número de celulares. Brasil, México, Argentina, Colômbia e Venezuela são responsáveis por 75% dos novos assinantes da região", afirma o relatório.
De acordo com Adriana Martinelli, coordenadora da área de Educação e Tecnologia do Instituto Ayrton Senna, o uso das tecnologias pode diminuir a exclusão digital e social nos países em desenvolvimento. “O Instituto Ayrton Senna acredita que oportunidades efetivas de inclusão digital garantem a inserção social dos jovens e adultos na sua comunidade e no mercado de trabalho, preparando-os para realizar transformações em qualquer domínio: pessoal, social, político e cultural”.
“Mais do que oferecer o acesso à tecnologia, é necessário desenvolver ações que garantam aos usuários não só o domínio técnico, mas, principalmente, ações formativas que os possibilitem desenvolver competências para usar a tecnologia como ferramenta de aprendizagem, o que implica em: buscar, armazenar, organizar, analisar e disseminar informações na Internet; discutir, criticar e avaliar as informações obtidas em processos interativos e colaborativos on line; desenvolver estratégias de gestão e produção de conhecimento; desenvolver as quatro competências necessárias para a vida: pessoal, relacionais, cognitivas e produtivas”, acrescenta Martinelli.

Beatriz Rizek, Diretora da Rizek Assessoria Cultural

A opinião é compartilhada por Beatriz Rizek, diretora da Rizek Assessoria Cultural, que acredita nos encontros de informática como meio de inclusão digital. “Eventos como a Campus Party precisam ser replicados nesses países, de acordo com a infra-estrutura e as iniciativas locais. Em São Paulo, por exemplo, a Escola do Futuro da USP (Universidade de São Paulo), então sob coordenação científica do professor Fredric Litto, realizou sete edições do Computer Jamboree, a farra da informática, evento similar ao Campus Party, porém, com proposta bem mais modesta, mas foi um início!”.
Para Carlos Seabra, diretor de Tecnologia e Projetos do IPSO (Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos), a internet não diminui a exclusão digital se não for concomitante com outras práticas de investimentos. “A internet em si não diminui a exclusão, assim como lápis e papel ou livros não acabam sozinhos com o analfabetismo. Inclusão digital pressupõe apropriação, pressupõe eliminação de exclusão social. O acesso à internet pode colaborar muito com a exclusão digital e social se for articulado com outras políticas e investimentos, se levar ao engajamento do cidadão no acesso às informações, tornar-se um instrumento efetivo de comunicação, fomentar o protagonismo, engajar jovens, donas de casa, terceira idade, professores, lideranças comunitárias etc”.

Carlos Seabra, Diretor de Tecnologia e Projetos do IPSO - Instituto de Pesquisas e Pojetos Sociais e Tecnológicos

De acordo com o documento da ONU, o uso da internet aumenta cada vez mais, mas países desenvolvidos ainda são responsáveis pela maior parte dos usuários e têm as maiores taxas de penetração entre suas populações. "Em 2002, a disponibilidade de internet em países desenvolvidos foi 10 vezes maior do que em países em desenvolvimento. Em 2006, foi seis vezes maior", informa o relatório.
A UNCTAD revelou que o uso das TICs está se tornando uma prática cada vez mais freqüente no mundo emergente, mas ressaltou que muitas ações precisam ser feitas. Mais investimento dos países em capital humano e infra-estrutura, além da elaboração de melhores regulamentos e leis para a Internet estão entre as recomendações.
Para Beatriz Rizek, a diferença dos números do uso e da penetração da internet entre os países desenvolvidos e os emergentes pode ser diminuída com mais ações do governo. “É preciso que a Câmara dos Deputados aprove o Projeto de Lei 1481/07, que torna obrigatória, até 2013, a universalização do acesso a redes digitais de informação, inclusive à internet, em estabelecimentos de ensino de todo o País, abarcando tanto instituições públicas quanto particulares, da Educação Básica ao ensino superior. A proposta prevê, ainda, a oferta de um computador com acesso à internet em cada turno da escola para cada grupo de dez alunos. Se isto se consolidar, acredito que o abismo digital tenderá a diminuir”.
De acordo com Carlos Seabra, essa distância cairá cada vez mais, dadas as características tanto das novas tecnologias quanto da essência do modelo econômico, que não se sustenta apenas em mercados ricos e nas classes mais altas, levando a disseminar cada vez mais o acesso à internet e aos computadores em todas as classes e países. “Isso, porém, não garante a inclusão digital, como a entendo, pois não basta ‘sentar um pobre na frente do computador’ para que tal ocorra. É necessário trabalhar educação, cidadania e cultura - e nisso a informática e a internet são poderosos ‘cavalos de Tróia’ que podem ajudar a superar as muralhas excludentes da injustiça social e planetária”.
“É fundamental que se somem esforços de políticas públicas, envolvendo ações governamentais, comerciais e do terceiro setor, pois somente as forças do mercado não garantem que não se venha a criar um novo tipo de clivagem, incluindo digitalmente uma parcela dos excluídos e deixando os mais excluídos ainda em uma espécie de apartheid tecnológico. Finalmente, há que se levar em conta também o custo da tecnologia, pois os cartéis de comunicação fazem com que a estreita banda larga no Brasil seja muito mais cara que na Europa ou nos Estados Unidos”, acrescenta Seabra.

FONTE:

http://www.odisseu.com/TicEducacao/Newsletter/04_20fev2008/index.html

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